BRASÍLIA – A proliferação das bactérias e de outros microorganismos resistentes à maior parte dos medicamentos requer atenção por parte dos governos e das autoridades médicas. É com esse alerta que a Organização Mundial da Saúde (OMS) elegeu o combate à resistência microbiana como tema do Dia Mundial da Saúde deste ano, comemorado hoje.
Para a Organização das Nações Unidas (ONU), o avanço desses microorganismos ameaça a eficácia de vários tratamentos e cirurgias, como o de câncer e o transplante de órgãos. Além disso, a resistência microbiana deixa as pessoas doentes por mais tempo, eleva o risco de morte e torna os tratamentos caros. No ano passado, foram registrados, pelo menos, 440 mil casos de tuberculose multirresistente e 150 mil mortes em mais de 60 países.
O uso indiscriminado dos antibióticos é apontado como a causa principal para o surgimento das superbactérias. Desde a descoberta da penicilina, o antibiótico é a grande arma da medicina contra as doenças causadas por bactérias. Com o uso intenso e frequente desse tipo de remédio, as bactérias criaram mecanismos para contornar a ação do remédio, que passa a ser incapaz de matá-la, como explica o imunologista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Glacus Brito. “Os antibióticos estão cada vez mais incompetentes no sentido de eliminá-las”, disse ele. As superbactérias circulam, principalmente, dentro dos hospitais. Por isso, pacientes internados em unidades de terapia intensiva ou com saúde muito debilitada ficam mais suscetíveis à infecção.
Para a OMS, o combate passa pelo controle da prescrição de antibióticos, o desenvolvimento de novas drogas e a higienização das mãos, principalmente por parte dos profissionais de saúde. No entanto, estudos internacionais mostram que grande parte dos profissionais não segue a orientação, ou seja, não adota o hábito de lavar as mãos com água e sabão antes e após atender um paciente ou de algum procedimento cirúrgico. As justificativas são as mais variadas, como falta de tempo, estrutura ou intolerância aos produtos de assepsia. O álcool em gel tem sido uma opção de higienização dentro dos hospitais. No ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tornou obrigatório o uso do produto em unidades de saúde públicas e particulares. O diretor-geral do Hospital de Base do Distrito Federal, Julival Ribeiro, conta que os suportes com o produto podem ser afixados nos corredores, leitos e enfermarias, facilitando o acesso aos profissionais, visitantes e acompanhantes. “A bactéria não voa. Eu brinco que ela pode voar por meio das mãos, podendo ser levada de um paciente para o outro. É um ato simples e que salva vidas [higienizar as mãos]”, destaca o diretor. Para enfrentar a resistência microbiana, o ozônio pode ser uma alternativa. O imunologista Glacus Brito desenvolveu uma pesquisa em que já conseguiu matar dez tipos de bactérias resistentes depois de ficarem cinco minutos expostas ao ozônio.
“O ozônio pode ser uma grande alternativa no controle dessas bactérias. A ação do ozônio é diferente do antibiótico. Ele rompe, fura, queima e destrói a parede da bactéria”, explicou. Dentro de dois meses, o pesquisador e sua equipe devem iniciar os testes de desinfecção de salas de cirurgia e leitos com vaporização de ozônio.
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