Um novo estudo publicado há menos de um mês no Journal of Leukocyte Biology sugere que a composição e balanço da flora bacteriana intestinal podem influenciar as reações imunológicas e inflamatórias observadas em pacientes celíacos. Se confirmada, a descoberta poderá trazer novas possibilidades no tratamento da doença celíaca.
Acredita-se que a doença celíaca – uma reação auto-imune ao glúten em pacientes geneticamente predispostos – afete de 0.5 a 1% da população (no Brasil, seriam portanto quase 2 milhões de pessoas). Quando os portadores desta condição ingerem glúten (uma proteína presente no trigo, cevada, centeio, aveia e malte), uma reação inflamatória no intestino delgado é desencadeada pelo sistema imunológico, a qual danifica as vilosidades intestinais responsáveis pela absorção de nutrientes. Os sintomas da doença são diversos (incluem por exemplo problemas gastrointestinais, anemia, dores de cabeça, fadiga, osteoporose, dentre outros) e o único tratamento é a eliminação permanente do glúten da dieta.
Embora esta seja uma doença de natureza genética, os mecanismos que levam à manifestação da doença em pessoas geneticamente predispostas ainda não são totalmente compreendidos. Algumas pesquisas indicam, por exemplo, que a exposição precoce ao glúten na dieta aumentaria a probabilidade de desenvolvimento da doença. Outras apontam que infecções virais enteropáticas poderiam favorecer a evolução da doença na infância. Além disso, alguns estudos também sugeriram que alterações na composição da flora bacteriana intestinal poderiam estar associados à doença.
Agora uma nova pesquisa desenvolvida por um grupo de pesquisadores espanhóis liderados pela Dra. Yolanda Sanz (Universidade de Valencia, Espanha) e publicada na edição de Maio da revista científicaJournal of Leukocyte Biology indica que alterações na composição da flora intestinal bacteriana pode influenciar as reações inflamatórias típicas da doença celíaca em vários graus. Os resultados sugerem assim que a manipulação da flora bacteriana – através por exemplo da ingestão de probióticos e prebióticos específicos – poderia em um futuro melhorar a qualidade de vida de pacientes celíacos, bem como de outros pacientes com doenças auto-imunes associadas, como no caso da diabete tipo 1. Segundo Yolanda Sanz, o estudo também poderá ajudar na compreensão dos mecanismos de ação da flora bacteriana em doenças auto-imunes.
Para chegar à estas conclusões, os cientistas usaram culturas de células de forma a simular o organismo de um paciente celíaco. Para simular o ambiente intestinal de um portador, estas células foram expostas à bactérias gram-negativas e à bifidobactérias, tanto sozinhas como na presença de gliadinas (proteínas chave na resposta inflamatória à presença de glúten). O que os pesquisadores puderam observar foi que as bactérias gram-negativas induziram uma produção maior de citocinas pró-inflamatórias do que as bifidobactérias. As bifidobactérias, ao contrário, causaram um aumento na produção de citocinas anti-inflamatórias. Neste sentido, a pesquisa sugerem que as bifidobactérias teriam o potencial de regular a resposta inflamatória produzida pela presença de glúten, reforçando também a função de barreira da mucosa intestinal.
Embora estes estudos ainda estejam em um estágio precoce e ainda precisem ser confirmados bem como passar por testes clínicos, segundo a pesquisadora Yolanda Sanz os resultados podem representar o primeiro passo para uma mudança em como a doença celíaca é tratada e até mesmo prevenida.
Referencia Bibliográfica: G. De Palma, J. Cinova, R. Stepankova , L. Tuckova and Y. Sanz. 2010 Pivotal Advance: Bifidobacteria and Gram-negative bacteria differentially influence immune responses in the proinflammatory milieu of celiac disease Journal of Leukocyte Biology. 87:765-778.
Fonte: Revista Vida sem Glúten e sem Alergias, 2010 (www.vidasemglutenealergias.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário