sexta-feira, 14 de maio de 2010

Maio: mês de conscientização da doença celíaca

Intolerância ao glúten afeta 1 milhão de brasileiros

Doença é difícil de diagnosticar e é provocada por intolerância à proteína presente no trigo, no centeio e na cevada.

Em uma cozinha cheia de mulheres, Sérgio, o único homem, chama a atenção.

“Hoje eu preparei um panetone sem usar farinha de trigo. É um panetone de Natal com todos os ingredientes normais de um panetone, mas substituindo o glúten pelo que não tem glúten”, diz o gerente de projetos Sérgio Calheiros.

O glúten está em quase tudo o que comemos. É uma proteína presente no trigo, no centeio, na cevada e no malte - matéria prima do pão, das massas e da cerveja, que para algumas pessoas pode ser um veneno.

Há um ano e meio, a mulher de Sérgio descobriu que estava com a doença celíaca, uma intolerância do organismo ao glúten.

A doença celíaca afeta um em cada 200 brasileiros. Em nosso país, um milhão de pessoas sofre desse mal, que pode se manifestar em qualquer fase da vida: crianças de colo, adolescentes, adultos e até nos mais velhos.

“Para ter doença celíaca, primeiro tem que ter predisposição genética para ter essa doença e, segundo, estar consumindo o glúten. Além disso, possivelmente há outros fatores ambientais que funcionariam como um gatilho para que essa doença se desenvolva. Ainda não se conhece o que seria este outro fator ambiental”, explica a Dra. Vera Lucia Sdepanian, professora de gastroenterologia pediátrica da Unifesp.

O analista Anderson Blanco Dardin conta que a doença começou no ano de 2000, com algumas pintas no cotovelo, no joelho, nas nádegas. “A gente passava uns remedinhos pensando que era algum tipo de micose e aí do nada sumia”, conta.

Só que os sintomas logo voltavam. E assim foi durante nove anos. Até que ele começou a emagrecer muito, embora o apetite se mantivesse normal. Perdeu 14 quilos em apenas cinco meses.

“Passei por quase dez médicos para tentar saber o que era”, recorda.

Anderson diz que chegou a pensar que tinha uma doença grave. “Eu achava até que estava com algum tipo de câncer no intestino”, revela.

Como os sintomas da doença celíaca são variáveis e comuns a diversas enfermidades, o diagnóstico costuma ser feito depois de vários anos de peregrinação por consultórios e hospitais.

“Eu perdi nesse processo 14 quilos, até chegar no 39. Foram 30 anos sendo pesquisada e a gente nunca tinha encontrado a resposta”, conta a professora Raquel Benati.

Raquel teve os sintomas mais comuns da doença celíaca: diarréia, barriga inchada, dor abdominal, emagrecimento e, principalmente, anemia.

Como o diagnóstico demorou muito, ela ficou com sequelas: osteoporose, perda de memória, problemas de absorção no intestino e uma anemia difícil de curar.

“Assim que eu fiz o diagnóstico, eu entrei numa livraria e tinha um livrinho com tudo o que você deve saber sobre diabetes, tudo o que você deve saber sobre anemia. E eu peguei o livrinho no segundo capítulo: muita diarréia, pesquisa doença celíaca. E aquilo me deu muita raiva, porque não era possível um livro na banca ter a resposta e a médica que estudou, fez faculdade, não consiga nem pensar nesta possibilidade”, conta Raquel.

Drauzio diz que os médicos devem pensar na possibilidade de intolerância ao glúten sempre que os sintomas forem persistentes e sugestivos. Sem lembrar que a doença existe, não há como fazer o diagnóstico.

“Infelizmente, no nosso meio, cerca de pelo menos um ano os pacientes estão peregrinando com seus diferentes sintomas”, diz a Dra. Vera.

Para confirmar o diagnóstico, há exames de sangue que indicam a presença de anticorpos provocados pela intolerância ao glúten. Mas o mais importante é fazer uma endoscopia com biópsia de intestino.

No revestimento interno do intestino existem vilosidades para aumentar a absorção dos nutrientes. Nos portadores de doença celíaca, essas vilosidades diminuem ou desaparecem. A mucosa fica lisa e o aproveitamento dos nutrientes, prejudicado.

A endoscopia pode dar certeza e detalhes dessa condição. Mas Anderson está com receio. Para fazer o exame, ele deve voltar a comer alimentos com glúten. E ele teme a volta dos antigos sintomas.

Depois da confirmação, o tratamento é um só e vale para a vida inteira - ficar bem longe de alimentos que contém glúten.

Há quinze, anos Raquel se despediu de pães e massas e procura preparar em casa receitas com ingredientes que substituem a farinha de trigo.

“Para substituir a farinha de trigo, a gente usa algumas outras farinhas, que é o caso do amido de milho, da fécula de batata e do creme de arroz. O sabor não é o mesmo, mas é parecido. A gente consegue chegar próximo ao sabor que é com o trigo”, conta Raquel.

Desde 2003, uma lei federal exige que no rótulo de todos os alimentos industrializados esteja escrito de forma clara se o produto contém ou não contém glúten.

“Verdura, fruta, legume e carne com certeza não contêm glúten. São alimentos saudáveis e seguros paro celíaco”, atesta Raquel.

Os alimentos industrializados sem glúten são bem mais caros. Um pacote de pão fatiado chega a custar duas vezes mais do que o mesmo pão com glúten. Mas com receitas especiais é possível gastar menos, como o panetone que o Sérgio aprendeu a fazer para a Lúcia. Ao invés de farinha de trigo, vai amido de milho e batata cozida.

fonte http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1413744-15605,00-INTOLERANCIA+AO+GLUTEN+AFETA+MILHAO+DE+BRASILEIROS.html


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